Drone de pulverização x pulverização terrestre: qual é mais eficaz na soja?
O drone de pulverização deixou de ser tendência para se tornar realidade na agricultura brasileira. Em fazendas de todos os portes, ele já participa do manejo fitossanitário, seja em operações emergenciais, áreas encharcadas, talhões com relevo complexo ou complementando janelas críticas de aplicação. Há até aqueles que optaram por usar apenas drones, quando essa modalidade se torna mais viável.
A dúvida que fica para o produtor é direta: o drone de pulverização entrega a mesma eficiência que a pulverização terrestre tradicional?
Um estudo conduzido pela AgroEfetiva e apresentado no XII SINTAG (2025) comparou cobertura, deposição e eficiência de controle de inseticida na cultura da soja, avaliando aplicações com drone de pulverização (dois volumes de calda) versus pulverizador terrestre (volume mais alto).
Os resultados ajudam a guiar decisões técnicas e econômicas no campo, com base em evidências mensuráveis de desempenho operacional e agronômico.
Por que fazer esse comparativo?
O sucesso de qualquer aplicação, seja com drone de pulverização, seja com equipamento terrestre, depende de três pilares: cobertura, deposição e eficácia de controle (resultado final sobre a praga).
Em culturas extensivas, como a soja, onde lagartas e outras pragas podem comprometer a produtividade e a qualidade, entender como cada modalidade se comporta em cada pilar evita desperdícios, reduz risco de deriva e direciona investimentos em tecnologia de aplicação.
Como o estudo foi conduzido?
O experimento ocorreu na estação experimental da Proteplan, em Sorriso/MT, com a cultivar BMX Desafio RR no estádio R6 (enchimento de grãos). Três tratamentos foram comparados, mantendo-se a mesma dose do inseticida (produto de ação por contato):
- Drone de pulverização com 10 L/ha (gotas finas);
- Drone de pulverização com 20 L/ha (gotas finas);
- Pulverizador terrestre com 100 L/ha (gotas finas).
Para quantificar cobertura e deposição, adicionou-se corante marcador à calda; as leituras de deposição foram realizadas por espectrofotometria, a cobertura por análise digital de imagens.
O controle fitossanitário foi aferido por pano-de-batida em diferentes dias após a aplicação.
Observação relevante: o estudo monitorou as condições meteorológicas durante as aplicações, reforçando o rigor metodológico necessário para comparar modalidades de aplicação de forma justa.
Resultados principais
Cobertura: vantagem do alto volume terrestre
Como esperado, o pulverizador terrestre (100 L/ha) apresentou maiores percentuais de cobertura. Volumes de calda mais altos tendem a ampliar a área atingida, sobretudo em arquitetura foliar densa. Além disso, avaliar a cobertura em aplicações em baixo volume apresenta uma série de desafios. Em cobertura, portanto, o terrestre manteve a vantagem sobre o drone de pulverização.
Deposição: o drone de pulverização a 20 L/ha se destaca
Mesmo com menor volume, o drone de pulverização a 20 L/ha apresentou maior deposição do ativo no alvo quando comparado ao terrestre (100 L/ha) e ao próprio drone a 10 L/ha.
Eficiência de controle: melhor resultado com drone a 20 L/ha
Na métrica, importante para a tomada de decisão, que é o controle da praga, o drone de pulverização a 20 L/ha apresentou a maior eficiência, atingindo 62% de controle de lagartas e superando a aplicação terrestre. Isso confirma que apenas volume de calda maior não é sinônimo de mais resultado e que o ajuste fino do drone de pulverização pode entregar ganhos agronômicos relevantes.
O que muda na tomada de decisão do produtor
Os achados reforçam que a decisão não deve se limitar a “drone” versus “terrestre”, mas sim quando e como usar cada modalidade.
Boas práticas para extrair o máximo do drone de pulverização
Para que o drone de pulverização entregue o que o estudo demonstrou em deposição e controle, alguns pontos são importantes:
1. Calibração fina do espectro de gotas
Manter gotas finas quando o alvo e o produto pedirem contato, mas evitando excesso de gotas muito finas (e com alto percentual de gotas menores do que 100 µm) em condições de maior risco de deriva. Ajustes de bico/rotação, vazão e velocidade devem ser coerentes com a taxa (L/ha) escolhida.
2. Taxa de aplicação coerente com o alvo
O estudo sinaliza que 20 L/ha foi o ponto de melhor deposição e controle com drone de pulverização na soja em R6, frente ao cenário testado. Em alguns casos isso pode ser maior ou menor. Replicar o racional (e validar em área) é a melhor prática.
3. Planejamento operacional e meteorologia
Com drone de pulverização, respeitar limites de vento, UR e temperatura aumenta a probabilidade de qualidade nas aplicações, e é fundamental para se ter segurança.
4. Sinergia com o terrestre
As aplicações terrestres continuam sendo uma ferramenta essencial no campo. Ela só precisa ser bem usada. Essa combinação tende a otimizar custo/ha e janela efetiva de controle.
Conclusão
O estudo da AgroEfetiva indica que o drone de pulverização pode igualar ou superar a pulverização terrestre em deposição e eficiência de controle na soja, mesmo tendo apresentado menor cobertura.
Em outras palavras: não é só quanto do alvo você consegue saber se cobriu, mas quanto ingrediente ativo fica onde precisa e se é convertido em controle.
Para o produtor, a decisão prática passa por encaixar o drone de pulverização na estratégia de manejo conforme alvo biológico, janela de aplicação, logística e risco de deriva.
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